sábado, 2 de janeiro de 2010

Encontro





Acordei há pouco. Cedo até. A chuva fina, mas constante, invadiu a manhã deste primeiro sábado do ano. Escorria suavemente do telhado para trepadeira numa sinfonia de gotas até chegar ao chão. Melodia da existência para os ouvidos. Oferecia preguiça. Ainda me joguei pela cama por mais alguns minutos, mas logo despertei. O relógio marcava 10 horas. Resolvi escrever. Estava fresco na memória o encontro que tivera no dia anterior com um colega, que há muitos anos não via. O papo me trouxe boas lembranças do passado e ao mesmo tempo, descortinou o meu presente.


Conheci o Marcelo na época da Faculdade, quando eu estava começando a trabalhar na Jovem Pan. A paixão pelo Corinthians e pela noite paulistana nos aproximou. Ele também tinha morado no interior. Entre a labuta diária e os estudos, nossas agendas se dividiam entre festas, mulheres e os jogos do Timão no Pacaembu. É claro, sempre regado a muita bebida. Descobríamos a cidade grande dando passagem à sede de nossos espiritos inquietos.


Ao telefone, no dia anterior, lhe disse que havia me separado há pouco e que minha vida ganhava novos contornos. Marcelo chegou ao bar pronto para ouvir, talvez, um pouco daquele amigo que havia conhecido em meados dos anos 90. Alguém que não se importava muito em trocar de namorada a cada nova lua. Um cara que só dava vazão aos seus conflitos internos quando explodia em raiva ao ver seu time perder para o arqui-rival Palmeiras.


Marcelo também havia casado. Não como eu, de “véu e grinalda”. Preferiu juntar os trapos. E por duas vezes. A última, no ano passado, foi conturbada. Seu relato me fez lembrar as cenas das muitas separações entre Emmanuelle Seigner (maravilhosa) e Peter Coyote, no filme Lua de Fel, de Roman Polanski: relação de amor e ódio. Não queria saber mais de relacionamento sério. Descreveu seu momento: “estou saindo com uma garota de meu trabalho e de vez enquanto dou uma escapada com ex”.


Entre um chope e outro, não demorou muito para meu amigo me indagar: "E você cara, pegando alguém? ”. Antes que respondesse, ainda disparou: “Deve estar tirando o atraso”. Marcelo acompanhou de muito longe o meu casamento. Também não quis ir muito a fundo. Estávamos ali para matar a saudade, relembramos histórias do passado e rirmos um pouco. Acendi minha cigarrilha e joguei no ar a sinceridade: “Não, não fiquei com ninguém desde que separei. Alias, pouco tenho saído. Estou mais trabalhando e fazendo alguns cursos. Também tenho gostado de escrever “. À medida que ia narrando minha rotina nas últimas semanas, fui percebendo um novo rosto do outro lado da mesa. Ficou engraçado!. Primeiro sua sobrancelha arqueou. Depois a boca encolheu. Seus olhos pareciam ver um Ser de outro planeta a sua frente. Diante da reação, ainda poupei de fazê-lo ouvir que tinha ido ao cinema sozinho no dia anterior. Marcelo despencaria da cadeira. Evitei que perguntasse ao garçom o que ele havia colocado na minha bebida”,tal era o grau de sua suspresa com minha resposta.


O papo, rolou por algumas horas. Reencontrei o mesmo Marcelo de antes, um pouco mais careca é verdade – lutava contra uma calvicie precoce desde da Faculdade. Talvez ele tenha divido a mesa do bar com um novo Patrick, ou “Patricão”, como gostava de me chamar. Mas não importa. Cada um vive sua realidade. Suas histórias. Suas transformações. Seus momentos. O que valeu mesmo foi encontro entre dois amigos que a vida resolveu separar um pouco. Mas não por muito tempo. Deixamos o bar prometendo nos encontrar em breve. Não esquecemos, é claro, que 2010 é ano do centenário do nosso clube de coração. Vamos pular e gritar. Agora, na mesma sintonia. Que venha a tão sonhada Libertadores.


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